quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Varoufakis recusa-se a morrer.





                                  Afinal a morte anunciada do Cometa Varoufakis acaba por revelar-se prematura.



Sua efêmera participação na cena política europeia, e, consequentemente, mundial, num palco conturbado, com seu país levado ao extremo, e no momento extremo ele pontificou, e aprendeu da pior maneira que os caminhos incertos que percorria eram-lhe adversos. Os cometas demoram muito a voltarem à cena, ao céu nesse caso, seguindo longa rota, demorando enorme tempo a reaparecerem. O Cometa Varoufakis deixou rastro logo, em livro que prontamente publica, e agora encabeça um movimento internacional para forçar a Europa a alterar o tratamento dispensado aos seus tutelados, mudando a receita, querendo que ela entenda que é com riqueza que se resolvem os problemas, e não com austeridade e contenção como únicos caminhos. Terá êxito agora? Logo se verá.

Ou a rota do astro seguirá um caminho incerto ou se fixará num céu muito brilhante, porque a parada é alta, a jogada incerta num jogo muito difícil, onde é necessário controlar muitas e diversas variantes, algumas delas imprevisíveis. Mas como ele recusou-se a morrer depois de metralhado  no Eurogrupo e na Comissão, e,  para que não restasse pó varoufakiano, as condições exigidas à Grécia excluíam todas as suas ideias, e todas as promessas de seu partido e de seu primeiro ministro que foi cilindrado pela UE, sem solidariedade alguma dos outros países na mesma situação, só a enorme decisão e generosidade dos gregos manteve Tsippras em seu posto.

Alijado, recusado, banido, expurgado, Varoufakis joga agora sua derradeira cartada. Sabedor de que muitos países precisam das soluções que aponta, lança um movimento que, sabe, vai tocar na ferida mais exposta e mais dolorosa existente na União, sabendo também que ela carece de tratamento, carece de remédio, e nisto joga seu futuro, sua vida política, sua possibilidade de ter voz, a voz que buscou solitário em sua moto expressar, de início com o apoio de Tsipras, que logo lhe faltou, a efemeridade deste não teve maldade, foi sujeito a desígnios muito superiores e à natureza política central do cargo que Tsipras ocupa, não lhe restando outra solução se desejasse sobreviver politicamente, e foi o que se viu.

Varoufakis ultrapassou tudo estoicamente, uma boa forma grega de estar, e, agora, renascido, pretende fazer valer suas capacidades, que são muitas, seu profundo conhecimento da economia, sua enorme articulação internacional, domina o inglês com perfeita amplitude, o que ajuda muito, e sua presença cortante que inspira exatidão, seu timbre que reflete certeza, bem iremos ver se terá resultado ou se será novamente 'aplastrado como incômoda cucaracha...' para dizermos como os maiores interessados no êxito das ideias de Varoufakis, 'nuestros hermanos' de península.


Dois anos depois (menos um dia) dá prova de vida:

Ex-ministro das Finanças lança em março partido helénico ligado ao DiEM25. E pede ajuda para obter 93 mil euros para o projeto
Após cerca de um anos e meio de ausência, Yanis Varoufakis está de regresso à vida política na Grécia com o lançamento de uma campanha de financiamento para um futuro partido helénico, que ainda não tem nome, mas será apresentado a 26 de março sob o lema do "regresso da Primavera Grega". Esta nova força política está integrada Movimento Democracia na Europa 2025 (DiEM25), fundado pelo ex-ministro das Finanças há precisamente dois anos.
"Nos últimos dois anos, o DiEM25 tem preservado o espírito da Primavera Grega de 2015 por toda a Europa. Agora, à medida que nos preparamos para apresentar o nosso programa progressista aos europeus em toda a União, através das urnas, chegou a hora de fundar a filial grega do DiEM25, que devolverá o espírito da Primavera Grega ao país que lhe deu origem!", refere o comunicado divulgado ontem no site oficial do movimento. O novo partido irá participar nas eleições locais e nacionais gregas, mas também nas europeias - todas elas com realização prevista para o próximo ano.
Esta Primavera Grega de que falam diz respeito aos cerca de cinco meses que vão desde a eleição do Syriza nas legislativas de 2015 até ao referendo de julho sobre a aceitação ou não das condições de um terceiro resgate (ganhou o não, mas Alexis Tsipras decidiu aceitar na mesma as condições dos credores). Os mesmos cinco meses em que Yanis Varoufakis foi ministro das Finanças e durante os quais liderou, sem sucesso, as negociações sobre a crise da dívida com os credores.
Varoufakis demitiu-se do cargo no dia seguinte ao referendo, consumando o seu afastamento definitivo de Alexis Tsipras, mas manteve-se como deputado do Syriza. A 24 de agosto, votou contra o terceiro resgate e, nas legislativas antecipadas de 29 de setembro, não se apresentou à reeleição.
Desde então, tem-se dedicado à participação em palestras e debates, aos livros, tem dado entrevistas, mas também trabalhado como conselheiro de Jeremy Corbyn, o líder dos trabalhistas britânicos. E um grande crítico da linha seguida por Alexis Tsipras.
O seu regresso à política começou a desenhar-se a 9 de fevereiro de 2016, com o lançamento do DiEM25, um movimento político pan-europeu de esquerda que tem como objetivo democratizar as instituições europeias. Entre os seus apoiantes estão Julian Assange, Noam Chomsky, Stuart Holland, Brian Eno e Rui Tavares.
Agora, Yanis Varoufakis está de volta à vida política grega e o primeiro passo foi apelar a que os cidadãos apoiem financeiramente o futuro partido, pois "todas as ações eleitorais têm custos". "E, ao contrário dos nossos opositores e titulares do establishment, o DiEM25 recusa o financiamento corporativo e institucional", refere o mesmo comunicado, cujo título é "Apoiem a desobediência construtiva na Grécia".
Segundo as contas do movimento, precisam de 93 mil euros: três mil euros para o site do partido, 20 mil para vídeos e publicidade, outros 20 mil para o evento de lançamento a 26 de março, 20 mil para levar à Grécia oradores e 30 mil euros para a equipa grega do DiEM25 viajar pelo país e formar células do novo partido.
Listas transnacionais
As ambições europeias de Varoufakis não ficam em suspenso com este novo projeto. A 21 de janeiro, o grego esteve em Paris com Benoît Hamon, o candidato socialista nas presidenciais francesas do ano passado, para o lançamento de uma campanha para as eleições europeias do próximo ano. Na altura, os dois afirmaram que pretendem constituir listas que partilhem um programa comum e que defendam uma Europa em rotura com a austeridade. Varoufakis adiantou que estas listas iriam apoiar um candidato comum para a presidência da Comissão Europeia. "Para ter uma agenda, um quadro político, também precisamos de uma lista transnacional", declarou o ex-ministro grego no evento.
Na quarta -feira, o Parlamento Europeu chumbou a proposta de criar listas transnacionais, tendo a ideia sido eliminada do texto sobre a composição do hemiciclo no pós-brexit que será enviado ao Conselho Europeu. "O Parlamento Europeu rejeitou as listas transnacionais. Mas não chorem! O DiEM25 está a reunir a 1.ª Lista Partidária Transnacional, em conjunto com movimentos progressistas & partidos de toda a Europa, para disputar as eleições europeias de 19 de maio", tweetou Varoufakis anteontem.
PROGRAMA
New Deal
As bases do chamado New Deal para a Grécia são reduzir drasticamente todas as taxas dos impostos e o custo fixo das atividades financeiras, mas também reestruturar a dívida pública e privada, refere o programa do DiEM25.

Seis reformas
Estas bases para serem cumpridas precisam da aplicação de seis reformas nas seguintes áreas: taxação, objetivos fiscais, criação do sistema digital de pagamentos públicos, gestão dos créditos malparados, investimento e respeito pelo trabalho assalariado e empreendedorismo.

Credores
O programa do DiEM25 para a Grécia mostra-se certo de que a troika e o Eurogrupo "irão rejeitar estas reformas". Sugerem, por isso, que até estas serem aceites "a Grécia manter-se-á no euro usando os seus próprios meios e com o governo a seguir a política da "cadeira vazia" do De Gaulle.

Não negociáveis
Fica claro que estas seis reformas, descritas como condição sine qua non da recuperação grega, não são negociáveis e serão implementadas unilateralmente por Atenas.
















Sem comentários:

Enviar um comentário