sexta-feira, 26 de agosto de 2016

DILMA COM CONDENAÇÃO PRÉVIA.







Lula tinha carisma, presença, sabedoria política, e, mais que tudo, enorme prestígio pessoal que se traduzia em popularidade, essa alquimia necessária a se tornar intocável em política, mesmo se odiado e invejado, seus adversários não ousariam. Lembro-me do Obama dizendo-lhe: "You're the man". Na época da sucessão, se ele tivesse escolhido uma vassoura, ela teria sido eleita. Escolheu Dilma Roussef, que nada tem de política como uma vassoura, nada tem de jogo de cintura, como uma vassoura, e, deveria se sentir mal, muito mal, uma ex-guerrilheira, uma mulher honesta, de ter de negociar, o que é muito próximo de comprar, com aquela miríade de deputados e senadores que não são capazes de ver mais nada, além de seus próprios interesses, pobre Brasil! E, diferentemente de uma vassoura que se adapta à mão de quem a conduz, Dilma se opõe a muitos interesses instalados, e vai-se tornando 'persona non grata' à medida que quer fazer as coisas direito. Não tendo a sorte de Lula em seu tempo, agora a conjuntura internacional lhe é desfavorável, e, para manter os programas em curso terá de usar de certos recursos que roubam-lhe a independência mister a se manter com as mãos livres no cargo. Sofre uma campanha difamante ao disputar a reeleição, que cria o caldo necessário a rachar o Brasil, ficando este a 50 a 50, os dois brasis clássicos, mentores das séries de revoluções a que esteve sujeito, então, reelegendo-se por um triz, incorpora a situação de fragilidade que desperta todas as ganâncias, as mais incontidas pretensões, estabelecendo um jogo político de poder que nada mais vê que a obtenção da suprema cadeira, que as urnas haviam atribuído novamente à presidenta, como gosta de ser chamada, assanhando a virulência de um meio podre, corrupto, ganancioso e frio com o qual D. Dilma positivamente não sabe lidar.

Pensei intitular a essa crônica, como alhures fizeram, daquilo que é, Crônica de uma morte anunciada, no entanto os requintes de crueldade evoluíram e estabeleceram contornos de legalidade, podendo-se no Brasil de hoje, por uma soma de interesses confluentes maioritariamente, destituir o presidente da república para dar lugar a uma nova conjugação de interesses que reponha, ou disponha, benesses que venham atender novamente às expectativas e tramas excluídas, ou preteridas, nessa ganância sem fim que se tornou a assunção de cargos eletivos, mas vi que não há morte, nem há anúncio, há cumplicidade e expurgo, e razões que podem, querem, e propalam a justificação de assim serem.

Dilma vertical é Dilma frágil, porque a sinuosidade, a elasticidade, a resiliência imperam hoje em dia por toda parte, contra a retidão, a firmeza, e a resistência. Entretanto Dilma, a guerrilheira, não sabe fazer o jogo, não sabe contornar, tornear, enganar, dizer uma coisa e fazer outra. Só conhece a certeza, a frontalidade, a firmeza, a prontidão, valores que existiram e foram admirados na política de outrora, valores muito úteis a quem se quer opor com dignidade a um poder estabelecido, mas valores que minguam, esvanecem, diluem-se nesse mar de conluios e cumplicidades, nesse jogo de cartas marcadas em que se transformou o poder executivo, para quem quer governar, e que, sustentado por um legislativo que não é nada mais que a expressão máxima desse jogo, um toma lá, dá cá sem fim, asqueroso, mesquinho, sem visão de Estado que pudesse e possa criar um Brasil potência a serviço de seus agentes criadores, o trabalho e o capital, usa o terceiro poder como arma de arremesso para desestabilizar e desestruturar, num jogo de emoções inevitáveis, raiva, inconformismo, revolta, ira mesmo. Para os que pleiteiam transportes mais baratos, acesso a saúde, melhor educação, saber que centenas de milhões várias vezes foram desencaminhadas, roubadas, é no mínimo desesperador. Não há justiça social, nada disso, o que prevalece é um mar de corrupção onde gente que não investe nem trabalha, apenas tem o poder de obstaculizar, ou de deixar seguir os projetos, se locupleta das riquezas geradas no país, para esconde-las 'off shore' ou gasta-las em luxos e confortos de que não fazem ideia, que desconhece a esmagadora maioria da população, coisas de ricos, consumos de milionários, como são conhecidos os brasileiros que transitam nos circuitos do alto consumo europeu e norte americano. E que não o são, pois os milionários têm de alguma sorte o seu próprio dinheiro, o dinheiro dessa gente é o público, que é gasto à rodo por essa gente vil que dele se locupletou em negociações espúrias, em trocas de interesse, na corrupção mais desenfreada, como agora se sabe.

Dilma, a discordante, é um peixe fora d'água, é uma nota dissonante na imensa sinfonia composta por essas forças corruptas e corruptoras que desejam manter o 'status quo', por isso está previamente condenada e será retirada do cargo para o qual foi eleita, tudo dentro da legalidade, legalidade inquestionável, que oculta em suas entranhas os interesses mais escusos e inconfessáveis, que são o verdadeiro moto dessa condenação prévia. 



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