sábado, 29 de março de 2014

E as 'Cantigas do Maio' viraram Cantigas do Abril.




Foi há exactos 40 anos no Coliseu de Lisboa. Era Março, neste 29, do ano da Revolução dos Cravos, dos cravos e de todas as flores que brotam com a liberdade. Liberdade de ser. Liberdade de dizer. Liberdade de sonhar. Liberdade de Cantar." Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós. E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz, mas eu digo que vem. Vem...."

Tive que pedir licença poética a Niltinho Tristeza, Preto Joia, Jurandir e Vicentinho deste samba enredo da Imperatriz Leopoldinense para o Centenário da Proclamação da República do Brasil, que veio como decorrência da liberdade mais desejada, a liberdade de ser gente, negada durante séculos pela diferente cor da pele, para lembrar-vos que a liberdade de cantar era restringida. Neste concerto a censura avisara que Venham mais cinco, Menina dos olhos tristes, A morte saiu a rua e Gastão era perfeito não poderiam ser cantadas, por todos e por ninguém, que sendo iguais com a mesma pele, eram diversos porque sonhavam: O que dá o direito a quem quer que seja de dizer o que se pode e o que não se pode cantar? Porém Grândola pode ser cantada.

"Não me obriguem a vir para rua a gritar." Os soldadinhos já voltam do outro lado do mar"  " Na curva da estrada há covas feitas no chão E em todas florirão rosas (cravos) duma nação." "Têm um sinal que o indica". Do que se dizia, foram as frases proibidas entre outras, porém a insidiosa afirmação de que é o povo que mais ordena, passou. Por mais que proíbam sempre há maior força no dizer e no fazer que rompa a opressão, que singre o bloqueio. E assim subiram ao palco José Carlos Ary dos Santos, Janita Salomé, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Fernando Tordo, Nuno Gomes dos Santos e Manoel José Soares em Introito,  e com as Rendas de Metais Preciosos Carlos Paredes e Fernano Alvim, e José Barata Moura como a provar que a diversidade é a maravilha da existência, que se pode compor o Fungágá da Bicharada e  dissertar-se sobre Kant e sobre a Ontologia de Hegel. Isto, é claro, é um pouco demais para qualquer ditadura.

E depois foi Abril, como sempre costuma ser depois de Março, e floridos os canos das armas com os cravos ocasionais, passamos a outros tempos que aqueles não voltam mais. Ou virão assombrações a fantasmagorizar com lembranças indesejadas a esperança de um povo fadado? Por isto é preciso lembrar, é preciso cantar Grândola 40 anos depois e por mais 40 se assim tiver de ser. O que não pode ser é que o povo não mais ordene sob a sombra de um invisível, uniciente e unipresente Ditador virtual, que pela força de sua vontade ordene se cantamos ou não, seja Março, Abril ou Maio.

Por isto para que seja sempre primavera, para que sempre e a cada ano Abril volte, e para que aquela vila alentejana seja todo  Portugal, concito a poesia dos compositores da Imperatriz a fazer coro na eternidade com Zeca Afonso, nas vozes de todos aqueles que oprimidos, não se calaram, e evocando cantam : "Terra da fraternidade", traga a " Liberdade! Liberdade!





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