quinta-feira, 6 de março de 2014

FOI NA ESCADARIA DA ASSEMBLÉIA DA REPÚBLICA.

Não foi por grupos da esquerda. Não foi por grupos da direita, Nem foi por gente das extremas desta duas facções. Não foi o povo revoltado e sem comando. Não foi  nenhuma das diversas classes sociais esmagadas. Não. Não foi.

Porém foi lá. Foi lá que caiu. Não terá caído, como anteriormente, só o comandante da polícia. Não terá caído o ministro da administração interna que não conseguiu manter a ordem pública, que não cairá por total falta de condições de continuar. Não terão sido vários elos da cadeia de comando. Não. Foi muito mais.

A confrontação política a que tem estado exposta população portuguesa para com os seus legítimos e ilegítimos representantes. Legítimos por que foram eleitos democraticamente para representá-los. Ilegítimos por que a insatisfação popular lhes retirou a legitimidade eleitoral, era só haver eleições e isto se comprova. A confrontação é o último recurso que restou ao povo para tentar impedir a situação de miséria em que foi colocado. Tentar parar a continuidade das medidas tomadas que só visam comprimir o fator trabalho, contra a largueza em que são mantidos os outros fatores, sobretudo ao financeiro.

E na escadaria da Asembléia da República o confronto tem sido físico e várias vezes vitimando os lados em confronto, no que é visível e paupável, naquilo em que acontece nas ruas. Entretanto o confronto invisível, o confronto que perdura  e perdurará, este não tem quartel por que as razões que o motivam estão presentes na vida das pessoas e não há nelas mais a compreensão ou aceitação de sua necessidade. Não digo, tendo em vista que algo é necessário fazer, que não entendam a situação, mas não da sua justiça, pois fica claro que só uma parte da população, ou seja um dos fatores está pagando a fatura e que a equidade, tão necessária sempre, e, numa situação extrema como esta, imprescindível, não tem estado presente nas decisões governamentais. Por isto pode se dizer que a situação se descontrolou.

O povo português, conhecido como um povo de brandos costumes, e que na sua atitude, quando uma parte dos manifestantes viu um dos seus colegas policiais ferido, cessou imediatamente toda e qualquer ação de confronto físico, onde porém o confronto espiritual se avoluma com o silêncio e o imobilismo, comprovam-se estes costumes brandos e o bom senso dos envolvidos. O que não retira, nem por instante, a tensão e o confronto por que estes só acabarão com a mudança das expectativas e, evidentemente, o recurso a solução democrática : deixar o povo falar em face de propostas concretas  que, por uma vez, não enganem o eleitorado e digam a verdade. 

O confronto que se deu na escadaria da Assembléia da República evidenciou que a situação chega a um limite. E este limite que por acaso, só por acaso, não foi mais grave, os brandos costumes, uma certa retenção de humores pelo coleguismo de classe, e, ademais, toda uma prevenção do governo em não confrontar os manifestantes, o que não fazem com os outros cidadãos em situação semelhante, o que previne, neste caso, toda a sorte de possibilidades temerárias. A presidência da Assembléia logo foi receber os manifestantes, o que nunca havia feito antes, sempre para prevenir e evitar o agudizar dos confrontos.

Porém nada disto descalça esta bota. Os problemas continuam, e as sua razões permanecem. E as razões dos confrontos idem. Não podem abrir exceção por que esta levaria aos tribunais a generalizá-las. Que fazer? Foi na escadaria da Assembléia da República que ficou claro que a atual situação não tem solução. Foi lá na escadaria que a máscara da possibilidade de haver solução para a condição em que Portugal se encontra acabou de vez. Foi na escadaria da Assembléia da república que ficou evidente, para além de qualquer dúvida, que ou se encontra uma outra política que permita um mínimo de justiça e equidade e que, ao mesmo tempo sofreie a faina destruidora da sociedade que tem levado a desordem humana e institucional sem limites que se atingiu, por obra da falta de perspectivas que criam as políticas implementadas até agora, ou...
Foi na escadaria da Assembléia da República. Foi.



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