sábado, 31 de outubro de 2015

A Litania da desesperança - A Rua dos Douradores.

                                                                                           
                                                                                                 (Sugere-se ler após leitura da Litania no
                                                                                            Livro do desassossego de Bernardo Soares,)

Solidão, que em não sendo desassossego, desassossega. Nossas almas clamam por companhia. É como o ser e não ser em nós. " Tudo que sabemos é uma impressão nossa, e tudo que somos é uma impressão alheia...". Por isso com um poema busquei definir esse livro de horas descuidadas, " casual e meditado." Onde diz o autor que subsiste nulo, talvez por ele fazer "férias das sensações." E assim corre o poema:
                          

                           Há um desassossego
                           Imensamente presente
                           no sossego
                           imanente em nossa
                           solidão
                           que para o mantermos
                           com nossa alma lusca
                           falseamos termos
                           isolamento que busca
                           outra
                           qualquer
                           inquietação


   Ou diz, por nele nada ter a dizer, e, nada tendo-se a dizer, diz-se muito, que é portanto como o mito.

Encontrando-se na Rua dos Douradores Aylton Escobar com Fernando Pessoa, o primeiro pôs música às palavras do segundo nominando a litania inominada naquilo que ela traduz e não naquilo que ela é em seu croché. "Croché das coisas...Intervalo... Nada..." No som de Ayltom a multiplicidade das coisas, no mutismo de Pessoa, sua esperança e sua unidade, e ademais unidade exclusiva,"Uma inteligência aguda para me destruir" por um ato diferencial: " o saber escrever", se não seria o moço de fretes, a costureira, o guarda-livros.

Um desassossego
permanente
na alma, no corpo,
na mente...

Que postergo,
entremente,
por não ter solução.

                          Volta sempre,
                          constantemente,
                          por ser minha
                          vocação.

"Sonho e fantasmagoria" "Tanto me basta, ou me não basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida." Posto sabermos que "Baste a quem basta o que lhe basta/ O bastante de lhe bastar!" e "... o fechar-se-me sempre a vida nesta Rua dos Douradores ..." "Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições." Todos queremos essa incondicionalidade, que, entretanto, é sujeita à tantas condições. "Cuido só de que o polegar não falhe o laço que lhe compete." Somos tão condicionais, e nossa única verdadeira realidade é a esperança, porque quebra a condicionalidade. A esperança é incondicional. "Ter o que me dê para comer e beber, e onde habitar..." e seguir em frente posto que "A vida é breve, e a alma é vasta..." Sempre o croché, "Sim, croché..."

Esvoaça a borboleta de beleza infinita, e uma vez poisada na cabeça determina nossa condição, ridícula condição de possuirmos o mundo, e afirmarmos: "Se eu tivesse o mundo na mão, trocava-o, estou certo, por um bilhete para a Rua dos Douradores."

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