quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Não se causa aflição a um aflito. (*) Formação!





Glória à pequena Eslovênia! Vergonha à poderosa Hungria! Na base de um milhar a cada par de horas os refugiados entram na Eslovênia que não tem mãos a medir para atender a tão volumosa demanda, mas não se furta, não se exime, não põe arame farpado no caminho de gente que já tem tantos obstáculos, e que a pé numa marcha terrível, imparáveis, seguem em busca de seu futuro, seguem na trilha da esperança, na tentativa intensa de encontrar o primeiro bem que lhes foi roubado: a paz.

Antes de mais agradeço aos que me deram formação, certamente essa que faltou ao Sr. Viktor Órban, pois por maior que seja o seu grau acadêmico, que eu não tenha, por maior que seja sua cultura, que eu não tenha, falta-lhe formação. Pois que formação é ter filosofia de vida antes de tudo o mais. Os portugueses que vão a Guerguélia são o exemplo do que deve fazer um povo, essa gente brava que não se furta nunca em solidariedade, porque tiveram formação! Pais e mães portugueses passaram a noção de ajudar o próximo, a mais linda lição que se pode dar a alguém é essa da solidariedade, é algo divino, algo que está para além do humano, no que o humano tem de pensar em si, de egoísmo, de falta de encaixe, ou de excesso de espelhos.

Só quem não teve formação que lhe abrisse os olhos para ver a condição do próximo, pode ficar insensível a essa torrente humana que foge, foge por uma reação básica, a primeira delas: fugir ao perigo. E afastar-se é o que resta àqueles que não podendo reagir são afrontados, esmagados e, se permanecem, mortos!  

Assim continua a senda, ver-se-á que será longa caminhada, muito longa será, com reação aos espasmos, como se fora um soluço europeu, triste condição, quase uma patologia, que por agora num soluçar acrescentou-se de cem mil refugiados aos que anteriormente havia decidido receber, assim seguem por esse caminho errático, onde muitos, mas muitos, que pousam de cristãos e de solidários no fundo pretendem, que essa gente expulsa não venha ter aqui a Europa para se refugiar, que fiquem lá por onde param, que se lhes dê dinheiro, como vão dar três bilhões ( três mil milhões) à Turquia para que por lá fiquem os refugiados que lá se encontram, e não cruzem em desespero e risco as águas do Mediterrâneo.

Nessa situação instável e precária seguem as reações européias, fruto de equívocos e mal-entendidos, erros consequentes da falta de um poder central efetivo, imaginem só sem a União como se defenderiam mais desordenada e violentamente os países que os refugiados querem atravessar e os que onde querem por fim se instalar, no sentido de obter soluções precárias após situações precárias, que, apesar de resolverem o problema para uns, impõe desespero a outros. Resulta que isto tudo terá um preço no final (Quem viver verá!), fatura que será apresentada a ambos os lados do conflito, pois de um conflito se trata em toda sua extensão, e apresentada a fatura alguém há de pagar a conta, porque quem tem formação sabe que toda conta é sempre paga por alguém, gerando enorme tensão, porque uma conta cobrada em desespero, só desespero propõe, e não se causa aflição a um aflito impunemente. 



(*) Lição muitas vezes repetida por meu pai Dr. Alfredo Do Couto,
      professor na UFF - Universidade Federal Fluminense.

Sem comentários:

Enviar um comentário