Mohamed o profeta que ascendeu aos céus no Monte do templo em Jerusalém, o homem que uniu as tribos de seu povo, que por seus desígnios criou o Islão, Mohamed o escolhido de Deus, Mohamed o grande político, o grande religioso, certamente um dia foi menino, e como menino viveu, passou seus dias de infância até que cresceu e foi mercador, e viajou e viu o mundo.
Assim todas as crianças do mundo, devem ser crianças e crescerem e passados seus dia serem homens e mulheres para cumprirem seu destino, destino de vida e de esperança que cumprem cumprir.
Jesus também foi criança, e como criança viveu sua vida de criança e cresceu e cumpriu seu destino de redimir a humanidade.
E se Jesus ou Mohamed, nas condições adversas em que viveram, não tivessem crescido, e, em criança, tivessem perdido o rumo de seu destino?
Morreu um Mohamed estrangulado com um cinto em Berlim, era uma criança como tantas crianças de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as famílias, vivendo o que lhes cumpre viver: suas vidas de criança. Assim era esse nosso Mohamed.
Assim como foi um Mohamed o estrangulado em Berlim, poderia ter sido um Jesus, um Moisés, um Buda, um Isaac, um David, um Jacob, um Ismael um Abraão... não importa! O que importa é uma criança estrangulada, venha ela a ser o que for, ou não venha a ser nada. O que importa são as possibilidades destruídas, é o futuro roubado, é a esperança eliminada.
Morreu com o nosso Mohamed todas as esperanças de um novo profeta naquele ser pequenino, chamasse-se ele Jesus ou Moisés, se tivesse o mesmo fim que ele teve, o fim do pequeno Mohamed, com ele morreria o futuro, morreriam as possibilidades, de um novo Mohamed, de um novo Buda, de um novo Abraão, a morte elimina todas as possibilidades, morreria com ele a possibilidade de alguém que pudesse liderar seu povo, ou que viesse dar um novo rumo à humanidade. E o futuro é feito de possibilidades. E com isso puseram um ponto final no futuro, ao menos nesse futuro puseram um ponto final.
As razões miseráveis, mesquinhas, indizíveis de sua morte, como ato vil e indigno, numa sociedade rica, riquíssima, que gera esses tipos marginais, não são a principal razão de sua morte. Essa, a razão principal de sua morte, está na circunstância de Mohamed, o pequenino, ser um lesado, um amputado. Amputaram-lhe a estabilidade, o seu lar, a sua casa, a sua rua, a sua cidade, o seu país. E a esse Mohamed amputado as circunstâncias acabaram por lhe amputar a vida, o bem mais precioso porque sem ele não podem advir os outros.
Não lamento a morte de Mohamed, esse pequenino como um Jesus pequenino. Não lamento porque o meu sentimento não está na morte de Mohamed, está nas mortes de todos os Mohameds, Jesus, Maomés, Abraãos, Isaacs, Jacós e Ismaéis desse mundo.
Execro a morte de Mohamed como abominação que ela é, menos pelo desgraçado que dela foi instrumento, mas mais pelas condições que amputaram a Mohamed a proteção de seu país, sua cidade, sua rua, sua casa, seu lar, seus pais em presença, sua gente próxima e presente, porque o pequenino Mohamed era um refugiado em terra estranha, e é isso o que primeiramente estava errado. E para lá de todo o preconceito existe a esperança, e habita a verdade.
Nós todos não podemos interferir numa família, todos temos muita dificuldade em interferir num lar, numa casa, nossa interferência numa rua é pouco provável, na cidade, na polis, já todos interferimos, e num país, ainda que não seja o nosso, devemos intervir porque todos somos responsáveis, e nossa maior responsabilidade é que não hajam os pequenos Mohameds mortos, para que hajam os Grandes Mohameds vivos, para liderarem seu povo e darem esperanças ao mundo.
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