terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A importância relativa das nações.





Vivemos desde a segunda metade do século passado, época em que nasci, uma constante deterioração dos valores importantes da humanidade, substituindo-lhes por este ascendente imparável que atinge os píncaros, cada vez mais alto, e cada vez mais importante no contesto internacional, muito em dissenso com os valores que contam para as pessoas que sabem o que é verdadeiramente importante.

Este processo de degenerescência dos princípios que se instalou foi criando distorções que refletem-se na vida do dia à dia das pessoas,  como por exemplo, gente que engole sapos pelo dinheiro, gente que casa pelo dinheiro, gente que ama pelo dinheiro, gente que aceita tudo pelo dinheiro, sendo um vale tudo vigente. Recorda-me aquele anúncio em que um idiota que havia sido um razoável jogador de futebol afirmava que: "É preciso tirar vantagem de tudo!" Conceito mais desvirtuado, que passava uma mensagem às novas gerações, a de que nos devemos mover por interesse, a de que o que nos motiva é o interesse. Logo na boca de um desportista. O Barão de Coubertain deve ter dado três voltas em sua tumba à cada vez que o malfadado anúncio comercial passava, até que um movimento popular de rejeição no qual participei, o retirou do ar.

Agora o processo de anulação dos princípios fundamentais da Humanidade, embicando-se por outros caminhos de pseudo-valores que não espelham princípios, mas oportunismo, subserviência e desonestidade de toda ordem, que é o que mais se vê atualmente. Vamos como exemplo apreciar a uma reunião dos ministros das finanças europeus o dito Eurogrupo, ou da economia e das finanças europeus, o famoso ECOFIN, onde vêm-se umas cenas de vassalagem intoleráveis, e onde impera sentado em sua cadeira de rodas o Sr. Schaeuble (fico-lhe a dever  as tremas que a minha máquina não põe) que toda a imprensa chama como o poderoso, em afirmações que tais: o poderoso ministro das finanças alemão, o poderoso Sr. Schaeuble, etc... Pergunto-vos: Poderoso porque? Que poder tem realmente esse homem em si? Nenhum! Seu único poder é possuir a chave do cofre da, essa sim poderosa, economia alemã.

Poderosos eram homens com argumentação inquestionável, como (vamos começar com alemães) Willy Brandt, Helmut Kohl, Walter Hallstein, Konrad Adenauer, ou os franceses, Jacques Delors, Jean Monnet, Robert Schuman ou de Gaulle, ou se lá estivesse alguém com a têmpera de um Victor Hugo! Se ainda houvesse alguém como Churchill! Porém temos Passos Coelhos e Durões Barrosos, para só citarmos dois portugueses, quando quão diferente seria se lá estivessem homens como Ramalho, Camilo, Eça, têmperas erguidas que não se curvavam. Como fazem falta colunas vertebrais com ossos firmes, e não de borracha, que não se curvem, apesar da justificativa compreensível de se terem de curvar para falar com um homem numa cadeira de rodas. Não é de todo admissível curvarem-se ante a chave do cofre como mendigos de pires na mão.

Uma união onde a dignidade e os princípios deixaram de ser fulcrais para a convivência entre diferentes, com pesos diferentes, com expressões diferentes e com prioridades diferentes, deixou de ser uma união. E lembremos aqui porque é poderosa a economia alemã, o é porque está calcada no trabalho e nas capacidades de seu povo extremamente empenhado e combativo, que soube guardar a coragem para se reerguer depois de tanta insânia. Sem essa capacidade de valer e fazer valer seus princípios a Europa não é nada,  é uma vítima para ser raptada à passagem do primeiro touro, e esse não será um poderoso deus disfarçado, será um qualquer boi bandalho que se apresente.

Fico a imaginar quem  surgirá nesse horizonte de pedintes? São necessários nomes como Nabuco, Rio Branco, Rui Barbosa, como surgiu Rui Barbosa em Haia, que falem de verdades superiores, que escutadas calam a todos, porque irrefutáveis, e que alteram as correlações de forças, porque inelidíveis, e a discussão necessária é a mesma de Haia, a igualdade jurídica dos Estados, onde cabe a discussão da substituição do consentimento pela coação e do Direito pela força, essas posições inaceitáveis e que convêm aos poderosos. Como se deu em Haia em 1907, e que é tema atualíssimo  hoje, porque se trata agora do mesmo " encarar as nações segundo a sua importância relativa" usando as próprias palavra de Rui Barbosa, situação inaceitável que só pela força de sua argumentação foi  derrubada, contra todas as previsões das grandes potências, e de suas intenções de um tribunal que consagraria nações de primeira e nações de segunda. Europa está a precisar de gente assim!

Fica a lição da História.

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