domingo, 20 de dezembro de 2015

Paris oublié!





Passadas algumas semanas tudo volta a ser como dantes, não no quartel de Abrantes, que francês aí só se teve o duque que primeiro invadiu Portugal e se tornou duque com esse nome por o ter invadido, mas de Madame La Marquise, onde 'tout vas bien' à conta da desgraça instaurada, mas Paris vive do turismo, vive das glórias de seu fabuloso passado, ou como está escrito nas paredes de Versailles: A toutes les gloires de La France, que Cocteau, Maurois e Ibert fizeram ópera, desse passado grandioso eternizado em pedra, entesourado nos museus, que são centenas em Paris, de tudo e sobre tudo, até da chave o há, mas Paris é também, ou antes de tudo, atmosfera, atmosfera que atrai e conduz a quem tiver sensibilidade. C'est Paris!

Sensibilidade de olhar, que perde-se por toda parte seja no carousel du Louvre, seja em Vincennes, no bois de Boulogne, ou numa das avenidas de l'étoilé, Paris é sempre ofertante, pois nos dá sua ambiência com graça e despreocupação, ainda não voltei à minha Paris para revisitá-la após os atentados, mas se lá não mais estiver essa atmosfera, terão roubado o que de mais precioso tem Paris, que em meio à sua prodigiosa presença histórica, de grandeza e de riqueza, guarda sua informalidade, e sua displicência quase a de uma vila rural, onde os sabores e odores, as cores e pendores, estão à vista e narizes de toda a gente, sem pejo de ser o que são, um mercado multicolorido e multicultural, para toda gente desfrutar, sem mais, sem melindres, e sem reservas. C'est Paris!

Paris onde se pode deixar conduzir pelo nariz até um bom restaurante de onde emana odor de comida excelente, como aconteceu comigo uma vez em Montmartre, onde segui, quase hipnotizado, por Clignancourt abaixo buscando aquele cheiro maravilhoso que me abria o apetite, Paris onde se sai sem pretender comprar nada e volta-se cheio de maravilhas descobertas, sejam os livros dos bouquinistes, seja uma peça de design à que não se pode resistir, seja uma antiguidade dos diversos gêneros, desde a moeda mais rara até ao candeeiro mais feérico, na loja mais elegante ou no bazar mais singelo do marché aux puces, ou uma bugiganga de uma feira de rua, seja na porte de Vanves, seja em Notre Dame. C'est Paris! 

Espero mesmo que tudo possa voltar a ser como sempre foi, e que o esquecimento se dê pela positiva, porque relembrando, como muitas vezes faço, a frase de Napoleão, nenhum maior símbolo parisiense, já foram certamente aos Invalides, a Madame de Stael, também símbolo de uma Paris da qual foi banida, frase inesquecível pela ironia, mas que aqui singelamente esperamos verdadeira: "Tout passe, tour casse, tour lasse.." que tudo volte a ser como dantes, imperando a altiva resposta de Madame: "Et tour se remplacé, Sire!" Nesse caso esperamos, como queria Madame de Stael, que seja  tudo substituído pelo que era antes! E possamos dizer como sempre: C'est Paris!

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