Faltam-nos ainda três nomes, dois femininos e um masculino do álbum de quadras de Adolfo, que foi recentemente lembrado nos sessenta anos de sua morte em março deste ano no Correio do Ribatejo pela jornalista Teresa Lopes Moreira na página que nesse jornal se dedica à memória, assim se intitulando, o que é uma bela atitude jornalística, porque sem memória é tíbio o presente, e improvável o futuro. Os de hoje são Helena de Aragão (1880 - 1961) e Candida Ayres de Magalhães (1875 -1964) note que em todos conservo a grafia com que se assinavam.
Helena de Aragão a sétima seguindo a ordem com a qual Adolfo as abordou (oitava foi Florbela, mas a escolhi para primeira) de seu nome completo Helena Augusta Teixeira de Aragão Breia, era das mais idosas entre as senhoras presentes, com cinquenta anos, a mesma idade de Branca Colaço (ver o segundo artigo) e só mais moça que a poetisa Candida, a mais velha com 55 anos. Helena era uma tradutora muito ativa em sua época, e jornalista, colaboradora como as demais na Revista Feminina, a organizadora desse sarau em que todas participaram. Helena, apesar de diretora de outra revista, a Modas e Bordados, desde 1925, colaborava com a Feminina, de que era fundadora, e com outros órgãos informação como a Eva que também dirigiu, e O Primeiro de Janeiro, que ainda é presença diária no Porto, como também o Século da noite, a Ilustração Portuguesa, e o Mundo, a partir de 1933, de que foi redatora. Se virem nesses jornais ou revistas algum artigo assinado por Agarena de Leão, não é outra que não nossa Helena de Aragão. Além da poesia dedicava-se à ficção e a literatura infantil, e está associada à composição de várias músicas desse tempo. Curiosidade triste: A Biblioteca Nacional não tem um título de sua autoria, naquele tempo não havia obrigação de envio de cópia das publicações para a BN.
Nesse 1930 Helena estava no auge de sua carreira, e era das mais destacadas figuras entre as que compareceram ao sarau, pedida a quadra, sai com uma filosófica falando sobre os dois contendores mais antigos da natureza humana, eis o poema:
Caminhos d'esta vida quem os trilha
Sem se deter à beira da Ilusão?..
- Há tanto mal que em tentação rebrilha...
... E tanto bem oculto em escuridão!...
Assina com sua letrinhas muito regular Helena de Aragão.
Nesse 1930 Helena estava no auge de sua carreira, e era das mais destacadas figuras entre as que compareceram ao sarau, pedida a quadra, sai com uma filosófica falando sobre os dois contendores mais antigos da natureza humana, eis o poema:
Caminhos d'esta vida quem os trilha
Sem se deter à beira da Ilusão?..
- Há tanto mal que em tentação rebrilha...
... E tanto bem oculto em escuridão!...
Assina com sua letrinhas muito regular Helena de Aragão.
Nesses vinte anos que já contava a República, dessas dez mulheres só quatro eram adultas na Monarquia, guardando dela uma lembrança mais lógica do anterior regime, já passado esse interregno que em breve seria o de uma geração, 25 a trinta anos, mudaram-se os gostos e as tradições do antigo regime, sendo tempo de algumas, primeiras, conquistas femininas, ainda que a igreja católica por exemplo, só reconhecerá que as mulheres têm alma, como toda gente, em 1970, data situada no futuro longe para esse dia de verão, daqui a quarenta anos desse 1930, portanto as conquistas femininas por seu espaço, e pelo reconhecimento de sua identidade e Direito de existência, era algo muito importante nesse tempo, e uma revista feminina quase uma enormidade. Era uma guerra, que as mulheres estão a ganhar felizmente, mas demorou, demora ainda em certos casos, como se vê.
E a outra seguindo nossa lista é Candida Ayres de Magalhães, e, que não acredito ser esse seu nome completo, sendo grafado Candida, assim mesmo sem acento, como está na sua assinatura no álbum de Adolfo, que hoje é reconhecida como das principais poetas monárquicas à conta e seu opúsculo, Um Português, por ocasião do repatriamento de D. Manuel II, já morto, atendendo a uma de suas últimas vontades, repousar o sono eterno em seu país natal.
Candida nasceu na freguesia de Santo Antão de Tojal, hoje em Loures, nos Olivais na altura de seu nascimento, no solar de sua família, a Casa de Pintéus, onde seu pai Cristóvam Ayres de Magalhães Sepúlveda, um monárquico declarado, vivia, e como era goês e militar, frequentava os clubes nessa dupla condição, como representante também que era de uma importante porção do império, mas a veia literária de Candida herdou-a não só desse pai que era poeta e historiador, mas pelo lado materno temos a escritora e poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho, sua tia materna, que a orientou a vida, e a quem Candida seguiu as pegadas, Maria Amália também vivia nos Pintéus, e morreria em vinte e um deixando seu legado literário, que, de certa forma, Candida perseguiu.
À época do sarau Candida era notada por seu segundo livro, Asas feridas, publicado dois anos antes, as Trevas luminosas, seu primeiro, é de dezenove. Ambos de poesia, com um certo fio melancólico, como era a maioria da poesia da época com poucas e honrosas exceções, vejam a quadrinha do álbum, inédita ainda, que Candida Ayres de Magalhães nos deixou.
Riso e lágrimas são bens
com que Deus nos quiz fadar...
Se algum tiver de perder,
que não seja o de chorar!..
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