Vivo há duas décadas fora do Brasil, mas a mesma força que me motivou levar o meu povo para a rua contra ditadura, a mesma energia que motivou todas as minhas ações para que meu país pudesse buscar o caminho da democracia, difícil caminho que tem de ser aprendido enquanto se caminha, e a mesma vontade que me levou a tantas ações, muitas que deram cabo da minha saúde, a mesmíssima paixão irresoluta por esta terra onde eu nasci, se mantêm todas intactas e vivas no meu ser.
Não fiz fortuna, não obtive vantagens, nunca tirei proveito de nada, absolutamente nada, que não tivesse origem no meu intelecto e na minha força de trabalho, e sonhei com o gigante Brasil livre, desagrilhoado, usando seus enormes recursos em prol do povo que nele vive, sonhei com um Brasil de enormes possibilidades, que há, e que depende de que todos os brasileiros possam ter sua via de expressar suas capacidades, para ser gigante econômico, e para que essa gente possa ter acesso aos benefícios dessas imensas riquezas de que o Brasil dispõe, e, de forma equitativa para todos, possam usufruir daquilo ao que se pode chamar de vida decente.
Nessa minha luta cruzei com muita gente, gente digna e empenhada, e também com gente abjeta e egoísta. Se fosse citar todos os nomes dos dois lados, esse artigo teria centenas de páginas, onde estariam enumerados desde a mulher que hoje preside aos destinos do meu país até ao bandido que salvou minha vida me escondendo do DOI-CODI, passando por citar gente, gente que tinha o mesmo sonho que eu, e que morreu por ele, e gente que desistiu da luta, e gente que se corrompeu como esse traste que atende pelo nome de Genuíno, mas que é totalmente falsificado.
O Brasil mudou muito nesses vinte anos de minha ausência, para melhor e para pior, criou muita consciência de suas possibilidades, o que é magnífico, manteve-se democrático, com uma boa imprensa que tem garantido muito essa democracia, teve algumas excelentes decisões administrativas que lhe permitiu crescer tendo alcançado a posição de quinto PIB do planeta, mas a ganância, essa ambição desmedida de ter, a ambição de possuir, mesmo que fosse roubando, o terrível jogo de interesses que estabeleceu um abominável mercado de trocas de favores, e gerou todo uma teia de cumplicidades que degenerou nessa imensa, porque o Brasil e imenso e rico, essa imensa fonte de corrupção, corrupção de toda a ordem, que criou numa rede de bandidos.
Foram atacando sistematicamente os focos de riqueza e possibilidades de meu país, até que chegaram ao grande pote que se chama Petrobrás, e sem ter o mínimo compromisso com a decência, com qualquer compromisso ideológico, sem nenhuma motivação patriótica (Risos, não meus, mas de meus leitores, pela minha ingenuidade.) sem nenhum compromisso com o futuro, porque o futuro do país se constrói com atitudes que visem possibilidades de construção de progresso, mas essas carecem de ideologia e decência. (Quão naif, dirão ainda outros leitores.) Talvez até seja naif, mas o que sempre me motivou foi essa vontade de futuro, esse desejo de que todos pudessem ser felizes, e consciente das possibilidades de meu país, até sempre pretendi que pudessem ser muito felizes.
Nada disso se verificou, eu fui ficando velho, sempre na esperança de voltar a meu país. Quando no final do governo Lula se estabeleceram novas expectativas, tentei voltar, tentei estabelecer uma empresa, o custo Brasil me pôs para correr, e vi quanto, o muito, que se tem que fazer para o Brasil tomar seu rumo, somem a isso o baixo nível cultural com o qual é difícil conviver.
Pensei que com a limpeza no PT poderia haver alguma esperança, (Aí o meu leitor me chamará de alguma palavra mais forte, estou em crer.) que os outros políticos com medo de serem envolvidos ou presos tomariam algum tento. Que tristeza! A ganância não vê limites e não teme nada. E que mal que essa gente tem feito ao meu país. Nas minha lutas nunca empreguei a violência, nunca empreguei o terrorismo, e nunca justifiquei quem o fizesse. Porém cada dia estou mais convencido que Brasil não chegará a um bom caminho sem um banho de sangue, todos os países o tiveram, desde o pequeno Portugal à gigante China, sinto a alma envenenada. Longe de mim que alguém que me leia vá tomar essa minha convicção como estímulo a começar uma ação violenta, longe de mim, mas que o constante abuso do Direito do povo, o constante desrespeito pelos menos favorecidos, pois que cada jogada dessa rouba a possibilidade de muitos e que muitos possam aspirar a uma melhor condição.
Por mais que se prenda, por mais que se acuse, por mais que o povo se revolte, por mais que se processe, essa gente não toma vergonha na cara. A situação foi evoluindo até que surgisse essa figura que sintetiza todas as manifestações da podridão humana nos diferentes meios onde transita, desde o evangélico ao político, desde os negócios ao rádio, e que atende pelo nome de Eduardo Cunha.
Essa criatura é só o símbolo de toda uma casta que, como Lucius Sergius Catilina o fez há mais de dois mil anos, destrói a república, como se vê é um problema estrutural do homem, passa o tempo mas a desgraça continua, mas há tantos homens decentes e com vergonha na cara, tanta gente que come o seu pão de cada dia humedecido no suor de seu rosto, aquele operário que volta para casa assobiando para dividir uma sardinha com sua mulher, foi por esta gente que lutei, e não posso conceber que os Eduardos Cunha da vida roubem-lhes o Direito sagrado à sua sardinha, ao seu feijão com arroz.
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