Não há 'nada' que a pesquisa não revele! Acabamos por descobrir que o sarau no qual foram recolhidas essas quadras naquele dia de Julho de 1930, oitenta e cinco anos passados agora nesse 2015, foi promovido pela Revista Feminina, que se chamava só assim na expressão daquilo que realmente era, e que convidou todos os seus colaboradores com a intenção de os confraternar, fazendo-os se conhecerem, e para o qual Adolfo, o recoletor dos poemas, esse que teve a sensibilidade da oportunidade que se manifestava, e que para lá foi munido de seu álbum para o feito, seguindo o designio de seu dístico que proclamava: Arte fonte de vida, Adolfo Faria de Castro era ilustrador na revista, e sabia que no sarau estaria a nata da poesia feminina de então, e não perdeu a chance. Sabemos pela notícia de que nos dá conta um número da própria revista, que compareceram além das dez personalidades femininas que listei no segundo artigo dessa série, intitulado: Outros inéditos do mesmo dia, que lá estavam, participando no sarau, outras intelectualidades feministas, porque então, e a luta continua, a mulher queria e ia conquistando seu lugar na sociedade: Elina Guimarães, Maria Amélia Teixeira, que era diretora da revista e Ana de Castro Osório, para além dos homens presentes, são outros nomes a destacar, mas que não estão entre os inéditos, estando entre os convivas.
Seguindo a lista de Adolfo vem: Rosa Silvestre, pseudônimo de Maria Lamas (1893 - 1983) de seu nome todo Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas, que usava vários pseudônimos, como Maria Fonseca, Serrana d'Ayre, e esse Rosa Silvestre com que assina o álbum de Adolfo, porque era o pseudônimo que usava na Revista Feminina, podendo ser outra noutros ambientes, parece um mal da época, sendo seu máximo expoente, hoje sabemos, Fernando Pessoa, não que Pessoa se fizesse conhecer com os seus heterônimos nessa época, não, estava tudo no segredo dos deuses, mas nesse tempo em que, ainda vivo, punha-os todos a escrever, mas ninguém sabia, havia enorme produção literária, pois cada heterônimo era um escritor completo, morreria cinco anos depois disso, curioso é não haver nenhum heterônimo feminino em pessoa, e que ele assim tivesse contribuído aqui com a Revista Feminina.
De toda sorte é interessante desvendar coisas que se foram ficando perdidas no tempo, esse que aqui volta para trás, e que traz memórias perdidas e que nesse tempo e no espaço, que são uma e a mesma coisa como a física einsteiniana nos ensina, e que Rosa, Maria Lamas, trazia consigo com a Serrana d'Ayre, seu local de nascimento, Torres Novas, distrito de Santarém, bem no centro geográfico de Portugal, juntando ao tempo o espaço. Casou-se menina aos dezessete anos, para já estar separada aos vinte e seis, com duas filhas, comunista e feminista num Portugal salazarista ao qual se opunha, era no mínimo uma flor rara, para não usar a expressão latina que dá preferência às aves, não saberemos se essa flor foi a rosa silvestre com a qual se intitulou, mas que trouxe-lhe espinhos, e bem acutilantes, não há dúvidas, e que estes irão culminar com seu exílio em França, onde, hospedada no Grand Hotel Saint-Michel no Quartier-Latin, montou um verdadeiro gabinete de auxílio aos refugiados português em França, e onde conhece, como apoiante, essa outra mulher excepcional de seu tempo: a grande Marguerite Yourcenar.
Porém nesse trinta, ainda princípio da ditadura, canta uma ausência de forma brejeira, eis a quadra:
"De tudo o que mais me custa,
Na nossa separação,
É saber se tu tens
Saudades minhas, ou não...
E assina em grandes letras seu pseudônimo.
A outra personalidade presente que evocaremos neste quarto artigo dos inéditos do mesmo dia é Alice Ogando (1900 - 1981) que foi mulher do humorista André Brun, que se expressava como escritor e autor de teatro e, como ela, colaborava em várias revistas, tendo sua vivaz escrita indo parar ao cinema, uma numa adaptação da própria Alice, de seu nome completo era Alice Ogando Costa de Oliveira Brun, que foi a mais frequente tradutora de Stefan Zweig, e ganhará celebridade na década de setenta com suas adaptações para o rádio-teatro, que a tornaram mais famosa. Neste 1930 é uma viuva jovem fazendo pela vida, e tem bem presente em sua quadra essas mudanças que a vida ocasiona e a que estamos todos sujeitos, dizendo:
"Senhora que é tão vaidosa,
Desvie-se, deixe passar,
Deus fez o vento e a rosa
Para o vento a desfolhar.
Também apondo grande assinatura.
Seguindo a lista de Adolfo vem: Rosa Silvestre, pseudônimo de Maria Lamas (1893 - 1983) de seu nome todo Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas, que usava vários pseudônimos, como Maria Fonseca, Serrana d'Ayre, e esse Rosa Silvestre com que assina o álbum de Adolfo, porque era o pseudônimo que usava na Revista Feminina, podendo ser outra noutros ambientes, parece um mal da época, sendo seu máximo expoente, hoje sabemos, Fernando Pessoa, não que Pessoa se fizesse conhecer com os seus heterônimos nessa época, não, estava tudo no segredo dos deuses, mas nesse tempo em que, ainda vivo, punha-os todos a escrever, mas ninguém sabia, havia enorme produção literária, pois cada heterônimo era um escritor completo, morreria cinco anos depois disso, curioso é não haver nenhum heterônimo feminino em pessoa, e que ele assim tivesse contribuído aqui com a Revista Feminina.
De toda sorte é interessante desvendar coisas que se foram ficando perdidas no tempo, esse que aqui volta para trás, e que traz memórias perdidas e que nesse tempo e no espaço, que são uma e a mesma coisa como a física einsteiniana nos ensina, e que Rosa, Maria Lamas, trazia consigo com a Serrana d'Ayre, seu local de nascimento, Torres Novas, distrito de Santarém, bem no centro geográfico de Portugal, juntando ao tempo o espaço. Casou-se menina aos dezessete anos, para já estar separada aos vinte e seis, com duas filhas, comunista e feminista num Portugal salazarista ao qual se opunha, era no mínimo uma flor rara, para não usar a expressão latina que dá preferência às aves, não saberemos se essa flor foi a rosa silvestre com a qual se intitulou, mas que trouxe-lhe espinhos, e bem acutilantes, não há dúvidas, e que estes irão culminar com seu exílio em França, onde, hospedada no Grand Hotel Saint-Michel no Quartier-Latin, montou um verdadeiro gabinete de auxílio aos refugiados português em França, e onde conhece, como apoiante, essa outra mulher excepcional de seu tempo: a grande Marguerite Yourcenar.
Porém nesse trinta, ainda princípio da ditadura, canta uma ausência de forma brejeira, eis a quadra:
"De tudo o que mais me custa,
Na nossa separação,
É saber se tu tens
Saudades minhas, ou não...
E assina em grandes letras seu pseudônimo.
A outra personalidade presente que evocaremos neste quarto artigo dos inéditos do mesmo dia é Alice Ogando (1900 - 1981) que foi mulher do humorista André Brun, que se expressava como escritor e autor de teatro e, como ela, colaborava em várias revistas, tendo sua vivaz escrita indo parar ao cinema, uma numa adaptação da própria Alice, de seu nome completo era Alice Ogando Costa de Oliveira Brun, que foi a mais frequente tradutora de Stefan Zweig, e ganhará celebridade na década de setenta com suas adaptações para o rádio-teatro, que a tornaram mais famosa. Neste 1930 é uma viuva jovem fazendo pela vida, e tem bem presente em sua quadra essas mudanças que a vida ocasiona e a que estamos todos sujeitos, dizendo:
"Senhora que é tão vaidosa,
Desvie-se, deixe passar,
Deus fez o vento e a rosa
Para o vento a desfolhar.
Também apondo grande assinatura.
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