segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

ABANIFADO.







O abanico que em espanhol é o leque, o abanador, o abano, logo, nos dois idiomas, abanicar é abanar, dar ar, agitar o ar. Já em português abafar e retirar o ar, não deixar respirar. Logo o sugestivo neologismo que intitula esse artigo, e que esconde o nome de mais uma desgraça iminente, guarda em si sugestivamente essa oposição, essas duas realidades antagônicas, logo em contra-dição, a de dar e tirar o ar, ou o que mais seja que possa ser dado e tirado, aliás típico. (Dado com uma das mãos e tirado com a outra?)

Todos os dias pelo mundo fora falem centenas de empresas, é nada é feito para evitar essas falências, todas pagam o preço de terem corrido riscos e não ter dado certo seu negócio. O único negócio que parece não poder falir é o bancário. Eu já disse num artigo que para a minha próxima encarnação irei vir banqueiro, porque assim posso fazer as mais fortes estrepolias, valer-me da mais irrestrita ganância, ter o apetite mais voraz que se imagine, correr os maiores riscos que se possa supor, que nada me irá acontecer, terei sempre ali o Estado à mão de semear para me socorrer,e, para além de toda a previsão, me emprestar dinheiro, mesmo quando o risco não o aconselhar, para me dar também algum, para me dar isenções e anistias,  para me ajudar de todas as maneiras, e se as asneiras que eu fizer mesmo assim não evitarem que eu quebre, como é banca, diz-se vá a bancarrota, o Estado estará  sempre lá para me salvar. Haverá até um conluio internacional sempre com essa finalidade de proteger a banca, gerando a resolução aos meus problemas, é um conforto ser banqueiro, tudo será sempre abanifado.

Justamente a banca que não tem razão nenhuma para que não seja lucrativa, é um negócio que não pode dar errado, só se usarmos o dinheiro em casino, que o que todos fazem, ademais com dinheiro dos outros, e por fim acabam quebrando, mas não vão a bancarrota porque o Estado, seja em que país for, lá estará para evitar a falência, para assegurar o negócio. (Por isso sonho em ser banqueiro, e, conforme combinado  o serei na minha próxima encarnação.)

Mas enquanto não re-encarno, nessa vida, não consigo entender porque é que os bancos não podem falir como qualquer outra empresa,  já que são empresas como as outras, e todo mundo devia saber disso com naturalidade e antecipação, e saber que seus depósitos e investimentos NÃO ESTÃO ASSEGURADOS para além de uma certa quantia. E nessa minha incompreensão toda uma lógica, da minha estupidez certamente, a lógica da maldição do dinheiro. O que quero dizer com isso é que essa mercadoria é amaldiçoada, porque sendo todas não é nenhuma, porque como veículo que é, é  necessário à todos, para que possam guardar a amplitude de suas possibilidades, evitando o escambo ou acordos de permuta, gerando a liberdade mais aprisionadora de todas, aprisionadora como ademais soem ser as liberdades todas, mas essa mais especialmente pelo amplo poder liberador que traz em si. Quanto mais nos liberta, mais nos aprisiona, e com isso os mercadores do dinheiro sabem exercer um poder elíptico, que lhes faculta a entrada em vários jogos de poder, e em vários dribles esquivos e  inesperados, porque estarão sempre protegidos pela força da mercadoria com que lidam.

Por isso sinto-me abanifado. (Com licença poética do Governo sombra, digamos.) 


Eu vivo em frente a um Casino já há duas décadas, tendo habitação e comércio nesta localização, e conheço demasiadamente bem a forma de pensar dos jogadores e sua total falta de escrúpulos quando adicionados e falidos. Querem jogar quem vai pagar pouco importa. Assim fizeram os bancos. Jogaram e foram falindo um após outro, nesta fase, até agora já são seis fora os on-lines (BPN, BPP, BES, BESA, BANIF, BIC e BII) e o que foram incorporados ou fecharam simplesmente, repetindo o que já tinha acontecido antes, e ninguém fez nada, e jogaram e deitaram o resultado de sua jogatina para cima do contribuinte, e o buraco passa já bem dos quinze bilhões. A bola da vez chama-se Montepio Geral, e ninguém fala disso...


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