"It's in the way that you use it."
Eric Clapton - The color of money.
Montanhas de papel, nada mais que isto, papel com números impressos a que chamam dinheiro. Papel cobiçado por muitos que não o tem, e portanto atribuem-lhe valor, valor que efetivamente não tem, e isto é assim em toda parte desde que o dinheiro deixou de ter lastro, e cada um imprime quanto quer, tendo a quantidade e o valor que acham conveniente, E o seu verdadeiro valor? O que possa ter, este valor só lhe é atribuído porque o dinheiro, como não está na mão de todos, é desejado por quem não o tem, verificando-se que metade do dinheiro existente está em poder de uns poucos (1% da população) por isto sendo cobiçado por todos os demais, os bilhões que têm só um pouquinho de dinheiro, assim como está distribuído, metade de todo o dinheiro existente não está circulante no sentido pleno do termo, é uma acumulação estática a serviço de aumentar o bolo de quem o detém, roubando estas quantias que o aumentam à economia real, que é a única riqueza verdadeira e consistente que explica tudo isto, porque nenhum de nós necessita de qualquer quantidade de dinheiro, mas sim das coisas que se pode comprar com ela, e só a existência destas coisas representa a verdadeira riqueza que há.
Sendo assim, a quantidade de dinheiro é tanta que distorce a realidade das coisas, distorção que só serve ao próprio dinheiro, não serve a mais nenhuma realidade, serve a que, como para cada nota de qualquer moeda que anda por aí, há outra que fica para sempre num cofre, e cobra por esta sua singular condição de existir não existindo, porque como não está nas mãos de todos, todos o cobiçam e os que dele necessitam para tocar suas vidas, têm de pagar por ele, mas suas quantidades hoje são tantas, que muitos dos que o detém chegam a pagar para que alguns o guardem. Parece surrealista a alguém que não compreenda bem estas coisas do movimento das finanças, mas é assim mesmo, uns quantos têm tanto dinheiro, que não se incomodam de pagar para que alguém fique com ele por um tempo, desde que o devolva a tempo e horas.
É claro que esse agente que irá guardar esse dinheiro tem de ser muito confiável para justificar que alguém lhe pague por esta tarefa. Ou seja alguém com sólida condição econômica, que seja confiável, de tal ordem que leve a outrem a pagar-lhe qualquer coisa para que este tenha seu dinheiro, porque sabe que quando for cobrá-lo, o que o recebeu terá todas as condições de devolvê-lo, mesmo que tire um pouquinho por o ter guardado. É isto que motiva a classificação das agências de 'raiting', as agências que classificam quem tem condições sólidas ou não para garantir o pronto pagamento das quantias que lhe sejam entregues, e estas agências são tão respeitadas, que muitas das entidades que detêm enormes quantidades destes dinheiros, como os fundos de pensões que só podem aplicar em entidades e países com o 'triple A', ou seja a classificação máxima dessas agências. Assim os mercados reagem às opiniões das agências que cotam os diversos agentes que vão a mercado, como mais ou menos habilitados a cumprirem, segundo a opinião destas agências, que são poucas e norte americanas na sua quase totalidade.
E mesmo com a cotação de um país como Portugal por estas agências como lixo do lixo, a mais baixa avaliação, ou seja atribuindo a Portugal um elevado risco, risco de não pagar, porque, sempre segundo os critérios destas agências, não reúne as condições de ser cumpridor dos seus compromissos financeiros, sendo assim investir em títulos portugueses é muito arriscado e por isto tem de pagar uma taxa muito atrativa, equivale a dizer muito alta, para justificar a que alguém se arrisque a emprestar-lhe dinheiro, HOJE, 20 DE MAIO DE 2015, OS MERCADOS PAGARAM PARA QUE PORTUGAL FICASSE COM O DINHEIRO QUE BUSCAVA NESTE MERCADO.
É incrível que Portugal classificado como lixo do lixo pelas agências, desperte no mercado esta situação singular de que só goza países muito sólidos e poderosos economicamente como a Alemanha por exemplo. E o que explica que isto tenha se passado? O que pode explicar que alguém pague hoje a Portugal que há poucos meses tinha de pagar taxas de juros tão alta que foi obrigado a recorrer a auxílio de três entidades poderosas para lhe emprestar dinheiro abaixo das taxas extorsivas que o mercado lhe cobravam por qualquer cêntimo que lhe viesse a emprestar?
Primeiro de tudo as respostas a essas inquietantes questões têm a ver com aquelas montanhas de dinheiro, a que chama-se excesso de liquidez, de alguns poucos é claro, já que esta metade de todo o dinheiro que existe têm de ficar em algum lugar, visto que não é de todos, pois que quase todos, mais propriamente 99% não tem acesso a ele, logo têm de estar aplicado, mesmo que seus detentores tenham de pagar por isto. A primeira resposta é essa: Quem tem montanhas de dinheiro quer que ele esteja disponível exatamente no dia e hora contratados, logo quer ter confiança em quem entrega este dinheiro, portanto volta-se para os agentes que parece-lhes dar esta confiança, independentemente do que se lhes possa indicar as agências de 'raiting', que desta forma se transformaram em enormes inutilidades, porque os mercados as ultrapassaram. Segunda porque joga-se um jogo de aparências, porque todo o mercado sabe que esta situação financeira é irreal, logo todos aqueles que jogarem pelas regras serão confiáveis, e manterão a ciranda financeira. Terceiro porque estabeleceu-se uma grande mística, a mística da mentira generalizadamente aceite, que é algo mais ou menos assim: Tu me dizes que podes, e eu, que necessito que tu possas, acredito logo que tu podes, e entre tu afirmares que podes, e eu acreditar que tu podes, vai a distância de tu realmente poderes, visto que eu crio as condições para que possas, e vamos nisso até onde for possível, mantendo todos contentes (Devo aqui confessar que apesar de achar tudo isto surrealista, porque não lida com a economia real, talvez isto seja mesmo o princípio da confiança, e esta seja uma cor que nestes termos eu não conheça, certamente um princípio assente em bases diplomáticas, bases que jogam com as aparências, porém tudo isto causa-me enorme impressão, espécie e constrangimento, porque sou daqueles que gostam da verdade verdadeira, e não da consensual, ou aparente; mas como nunca serei ministro das finanças de nenhum país, o que eu gosto ou deixo de gostar não faz a menor diferença, nem é para aqui chamado.).
Tendo isto em conta tudo o que tenho dito sobre a reação das dívidas impagáveis se esboroa, até que os mercados mudem de opinião. Para o bem de países como Portugal, espero que os mercados continuem a acreditar, para além das opiniões das agências de 'raitings' e que para bem de países como a Grécia a montanha de dinheiro seja tão grande que necessitem chamá-los para o jogo do tu acreditas, que eu acredito. Até quando? A pergunta mais apropriada é melhor: Até quando a economia vai conseguir suportar a fatura desta ciranda financeira?
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