quarta-feira, 6 de maio de 2015

As portas da Europa.




                                                                                 


                                                                                                       Ama o próximo como a ti mesmo.



Às portas da Europa se encontram hoje mais de um milhão de vítimas da insânia que percorre  África por diversos países, deslocando este enorme contingente humano que sem outro remédio que fugir, fugir para tentar manter-se vivo, apegando-se ao último e mais precioso bem que lhes resta: a vida, as suas próprias!

Mas de que fogem estas centenas de milhares de almas? Fogem de que, e porque arriscam suas vidas, as mesmas que querem salvar, lançando-se nas águas do mar que divide duas terras tão distintas, tão desiguais em condições, estas condições tão necessárias e imprescindíveis a manutenção deste bem, único que lhes resta e que querem salvar? Querem salvar suas vidas, e tencionam vivê-las, se conseguirem, num ambiente onde elas não estejam sujeitas ao risco permanente, e onde haja outro bem que sendo para além da vida em si mesma, é o único que a justifica, e que se chama dignidade, posto que uma vida indigna não é vida que mereça ser vivida. Por isto arriscam suas vidas, por isto fogem, e fogem dos quatro cavaleiros do Apocalipse, que juntos e em ação combinada, pois que os quatro cavalos à toda brida cavalgam pelas terras d'África, e alucinadamente vão perpetrando seus ditames de morte e de dor.

A guerra, a Fome, a Peste e a Morte campeiam pelos países  de onde fogem estes milhares e milhares, que se tornam nossos próximos, vindo bater às portas desta nossa Europa, como último recurso para tentarem manter aquele bem precioso  que vêm ameaçado pela ação combinada dos quatro cavaleiros. 

Nós não somos responsáveis, indiretamente talvez até sejamos, pelo que se passa nos seus países, e não teremos obrigação de propor ou dar solução às desgraças que lá ocorrem, mas ao que nos vem bater à porta, a esta solicitação, é irrecusável tomar posição, não podemos fingir, como se vem fingindo já desde há muito tempo a esta parte, que o problema não existe, ou que não temos nada a ver com isto. Quando alguém nos bate a porta, torna-se nosso próximo, e, como tal, seu problema passa a ser nosso, passamos a ter responsabilidade para com ele, e não podemos nos escusar.

Toda reação que não seja inclusiva neste caso será contra natura, já que se encontramos um bicho ferido, abandonado, nossa primeira reação é tratar dele, é darmos-lhe proteção e aconchego. Não será assim com nossos irmãos que fogem do inferno em que se transformaram seus países, suas cidades, suas casas? Negros, na cor da decencia, pois que a decencia é negra, como a situação limite que representa: A situação negra de não ter uma vida decente, posto que, sendo assim desde sempre, a decência mostra-se negra em solidariedade daquilo que não podemos evitar, que é sermos com ela, decentes, posto que se ela assumisse qualquer outra postura que não a da solidariedade, não seria decênte, não seria decência, então contaminando-nos desta condição absoluta e suficiente para sermos dignos e merecermos viver, porque indecentemente, miseravelmente, contra a natura, contra nossa natureza humana, não vale a pena viver, portanto não temos outra possibilidade que atendermos aos nossos irmãos que nos batem à porta. Esses mais de um milhão de que vos falei são só os com estatuto de refugiados, os deslocados são várias dezenas de milhões.

Esta cegueira em que se encontra a Europa é inadiável! Ou recupera prontamente a visão, ou perde-se na confusão do precipício de não querer enxergar, realizando o dito popular- Mais cego é aquele que não quer ver. Não querendo atender a um problema que é muito volumoso e que chega em má hora, procura na atitude da avestruz, esta ave africana que não serve de exemplo, procrastinar o inadiável, repito. A Itália tem solicitado que olhem o problema, o Papa Francisco desde o primeiro momento indicou o caminho, sabedor da inescusabilidade envolvida, pois que como problema diário, que inquieta e confrange toda gente, que se vai avolumando em números e impossibilidades a cada dia que passa, e que só se soluciona com um plano de inclusão abrangente, onde todos os países digam até onde podem ir, e que números estão dispostos a aceitar, e que disponibilizam o transporte, pondo fim a um tráfico de almas jamais visto na história da humanidade.


Quanto mais cedo a Europa no seu todo compreender que esta situação é problema seu, e, que como tal, a si compete promover a  melhor solução. De ficar feia na fotografia não se livra mais, porque tudo que a movimente agora terá a ver com a realidade, esta incontornável manifestação que nos exige posicionamento sempre, e não com sentimentos altruísticos, posto que a beleza do humanitário se perdeu com a avestruz, mas até por conveniência ordeira, já que a ordem é tão melhor que seu oposto, ou por habilidade, outro motivo recorrente, a Europa terá de ver a 'incontornabilidade' e a 'inadiabilidade' deste problema que está batendo às suas portas, e para o qual não tem outro recurso que as abrir.




PS. No dia 7, o seguinte a este artigo, o presidente da Comissão européia, declara que é preciso abrir as portas da UE para que 'eles' não entrem pela janela. Junker é pragmático ao menos.


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