De hoje até o próximo 30 de Novembro, quando se comemorarão oitenta anos sem Pessoa, e o centenário da Revista Orfeu, todas as semanas publicarei um poema relativo a esse gênio singular que mais que habitar a língua portuguesa, assombrou-a para sempre, fantasma múltiplo a desassombrar o verbo.
Ofídio, Ofélia, Orfeu.
Solução de desamor/
/Labirinto da alma.
FERNANDO PESSOA/
/ BERNARDO
SOARES.
Tem os venenos destilados todos
Em sua bolsa inoculadora, que só em si inoculava,
Rastejando por todos os inquinados lodos
Mutilado, sem raciocínio e afetividade, andava.
Expressão de covardia sem busca de mimos
Serpente exponencial sem harmonia
Dédalo em Knossos a procurar por Minos
Seu vazio pleno que ao vazio enchia.
Chamava-se Ofélia, Eurídice
E a matéria, quimera
Sossego é não como disse
É o que foi e o que era.
Da revista, o nome indicativo, és
Do que sempre quis ser
Com o corpo despedaçado em papéis
Morre-vive em seu poder.
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