segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Os portugueses na frente.







Tinha enorme simpatia pelos húngaros, seu folclore, suas músicas, minha avó tinha uma coleção de discos de mazurcas, ainda em setenta e oito rotações, e eu os ouvia muito, depois quando visitei a Hungria gostei muito dos grupos que vi por lá. Na Polônia foi o mesmo. Nunca mais irei a esses países, tomei nojo deles, repugna-me quem não é capaz de ser solidário, tenho nojo de quem é insensível à dor do próximo. A atitude define o caráter de um povo, do mesmo como define o de uma pessoa, desde os chutes da jornalista aos quilômetros de arame farpado, sem que um húngaro se manifestasse contra a atitude de seu governo, sem que um húngaro levasse uma garrafa d'água aos pobres desgraçados que queriam apenas atravessar o território de seu país, no que foram hostilmente impedidos,  sem contarem com a solidariedade de um húngaro, de um polonês, de um checo, de um eslovaco, essa gente que precisou muito de ajuda em várias ocasiões e encontrou solidariedade intensa e abundante, essa mesma solidariedade que não souberam materializar em um litro de água sequer. 

Por outro lado os portugueses saíram de seu país, percorreram milhares de quilômetros para irem levar em mãos a sua ajuda. Depois ainda outras mais caravanas desse povo cálido, que se solidariza com a dor do próximo, que sente a comunhão com quem está numa situação difícil, que se movimenta e partilha o pouco que tenha para que seu próximo não sofra mais. Hoje ocorre uma campanha onde os artistas, os músicos, os cantores, toda gente se movimentou para arranjar fundos. Onde o dinheiro escasseia, onde se está vivendo um momento difícil, esse povo não faltou, e está dando seu dinheirinho para acolher os refugiados, sabedores de que a ajuda europeia será insuficiente, e porque querem fazer mais e melhor. Tenho muito orgulho em descender dessa gente, nobre raça, com imenso coração, que deu com o mesmo gesto amplo, com a mesma solidariedade, com a mesma proximidade, ouviram o que disse D. Dilma na abertura da assembléia da ONU? São assim os portugueses e brasileiros. Eu tenho orgulho de ser brasileiro e de descender de portugueses. 

Sabem, sempre tenho em perspectiva o modo de ser das pessoas, individual e coletivamente, para avaliar de seu valor, de sua validade, aquilo que possam ter a ver comigo, o que me possa aproximar delas ou não, em vez de interesses, posições, se têm dinheiro, ou não, se me interessam culturalmente, ou não, se me são convenientes, ou não, se me trarão alguma vantagem, ou não, como sói fazer a maioria da gente segundo tenho notado, sempre escolhi meus amigos entre os excêntricos, entre os artistas, entre os poetas, entre os sonhadores, e não entre os mais bem bafejados pela matéria, os mais bem colocados nos postos interessantes desse mundo, e não me arrependo, os mais bem postos que se tornaram meus amigos e continuaram como meus amigos, o foram e o são, porque têm essa característica santa de serem foras de série, de serem especiais, de sentirem as coisas mais valiosas desse mundo e por saberem que essas não podem ser medidas em números, pesos e medidas. Assim quando encalhei em Portugal, deixei-me estar pela imensa empatia que tenho com essa gente, essa gente valorosa, capaz de grandes sacrifícios, e de gestos de uma nobreza que poucos outros grupos humanos são capazes. Admiro mesmo essa gente, e respeito essa forma de estar.

Em vista de tudo que estão fazendo, e como foi O ÚNICO PAÍS a ir ao encontro dos refugiados para dar sua solidariedade irrestrita, não podemos negar que eles sairam na frente de toda a gente, não podemos negar que estão, mais que todos, OS PORTUGUESES NA FRENTE !

Aproveito a oportunidade desse artigo para comentar que esse movimento que reuniu no Teatro São Luís a ação intitulada LISBOACOLHE,  que a RTP1 transmitiu ao vivo, com  a participação de artistas portugueses de diversas áreas, numa gala para recolher fundos que podem ir dos cinquenta cêntimos (custa sessenta) através do número solidário: 760 200 250  até milhares na transferência bancária para o  NIB: 0018 0003 4037 409 2020, dinheiro destinado ao Conselho Português para os Refugiados  e ao Serviço Jesuíta aos Refugiados. Isso é Portugal e os portugueses!

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